quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cem palavras


O constante barulho do ar-condicionado e o desagradável som de buzinas aleatórias. As atualizações de tragédias nas páginas de notícias e piadinhas sem graça no twitter. Pessoas chegam, ficam e se vão. É, amigo, mais um dia se passou.

Passou, e levou em suas asas mais uma oportunidade de dizer aquilo que consome suas noites e seus pensamentos. Aquilo que não te permite concentrar nas conversas de seu companheiro e nas brincadeiras dos amigos. Sua chance de se libertar disso, sim, ela passou.

Mas de amanhã não passa. Estou decidido. Vou fazer acontecer, vou chegar e botar tudo pra fora, sem receios, sem arrependimentos, sem perdão. Ar-condicionado, buzinas, pessoas, notícias, passou.

Quantos sentimentos gostaria de expressar e se viu traído por suas próprias palavras? Aquelas palavras que sempre estiveram com você e que, de tão habituado a elas, pensou ter o controle da situação. Não, você não tinha. Tantos ensaios, tentativas na frente do espelho. O texto estava pronto, era só esperar o momento certo e: dizer. Simples. Você já tinha previsto a situação, as reações e até quando o momento surgiria, mas, quando chegou a hora, elas sumiram e te deixaram na mão. Fugiram e se transformaram em uma bola de angústias e arrependimentos na sua garganta. Um misto de decepção consigo mesmo e sentimento de impotência diante de algo tão frágil, tão simples, tão particular.

E assim você vai morrendo aos poucos, engasgando com doses homeopáticas de palavras não ditas, que agora estão atravessadas e arranham a sua garganta querendo sair, querendo ficar. Elas não podem mais ficar.

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